quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Clássicos da Literatura Disney - Parte 3


Mais um dia, mais um capítulo de avaliação de Clássicos da Literatura Disney, nesta quinta feira uma história abismal e uma colossal são os destaques, do volume 7 ao 9.

Legenda da Avaliação: (*)Ruim, (**)Regular, (***)Bom, (****) Ótimo, (*****)Excelente.



  
Volume 7 – Guilherme Tell

A Lenda de Guilherme Tell, 32 páginas, 1988;

Roteiro: Guido Scala
Desenho: Guido Scala

Aqui, o Pato Donald é Donald Tell, ele vive na Suíça em uma época de opressão, todo mês os cobradores irmãos Metralha levam quase tudo o que ele tem, não permitindo sequer que compre areia para exercer o ofício de relojoeiro. Donald Tell busca ajuda no seu rico tio Patinhas, que o incentiva a começar uma revolução, já que ele também sofre com os impostos extorsivos, e para isso dá ao sobrinho uma besta (a arma, não o animal). No entanto, ao contrário do Guilherme Tell clássico, este é uma negação com a arma e precisa treinar muito. Preocupado que está com a revolução que deverá liderar e com sua mira desastrosa, o pato se esquece da obrigação de se curvar diante do chapéu do chefe dos cobradores de impostos posto sobre um poste na praça, e por isso deve submeter-se a conhecida prova de acertar uma maçã (na verdade, três) na cabeça dos sobrinhos. O maior mérito dessa história é que ela tem só 32 páginas, é curta para essa coleção, é simples e não se complica com seu roteiro não tão bem construído. As melhores piadas são em relação à criação de coisas identificadas com a cultura da Suíça, como o queijo suíço e o canto à tirolesa. O roteiro é infantilizado quando, por exemplo, a flecha ricocheta em diversos objetos antes de acertar alguém. É comum em histórias infantis, mas plenamente dispensável quando se deseja fazer uma história melhor.


Mickey Tell, 14 páginas, 1990;

Trama: Neville Jason
Roteiro: Tom Anderson
Desenho: Tello-Team

Outra história bastante simples, onde Mickey e Pateta vão aos Alpes suíços, e ao sentir o ar rarefeito Mickey desmaia e acorda no passado na época de Guilherme Tell, vivendo com ele o mais famoso de seus feitos; Os desenhos, assim como a colorização, são superiores às da história anterior, já o roteiro é bem menos criativo e engraçado, (Aliás, o Mickey está bem menos inteligente nessa história, demorando várias páginas para perceber que estava no passado) já que o Mickey apenas vive as histórias já conhecidas do herói suíço, sem nada de diferente ou imaginativo. Uma história de 14 páginas apenas para fechar a edição.


Os Noivos, 75 páginas, 1976;


Novamente, assim como no volume 4, a maior história ficou para o final do volume. História essa baseada em um livro que, sendo muito mais popular na Itália ou mesmo na Espanha, ocupa na coleção desses países a primeira posição no volume referente, sendo este, na Itália, o número 1, uma vez que lá ele tem a mesma importância que, aqui, tem as principais obras de Machado de Assis (segundo o próprio texto explicativo da edição). Nessa história Donald é Renzo Donaldino, jovem trovador enamorado de sua noiva Margarida, mas que devido a um ardil de Dom Patinhas, poderoso soberano da região, é obrigado a se casar com Brigite de Monza para que esse próprio se livre do casamento. Querendo evitar o matrimônio e acossado pelos servidores de Dom Patinhas, os Metralhas, Donald consulta o cientista Pardal, que lhe dá um elixir da greve para que os Metralhas abandonem o trabalho, lógico que Donald, atrapalhado como sempre, derruba o elixir, que voa em direção a Milão. Sem alternativa, o pato foge para as terras do rival de Dom Patinhas, Patacôncio. Essa é minha história favorita do volume, não chega a rivalizar com as melhores da coleção, mas num volume bastante fraco, ela se destaca com suas boas piadas e com sua história bem escrita. Não há uma trama excepcional aqui, mas uma boa história apenas, com um ótimo e hilário final.


Avaliação da Patranha:
A primeira história é pouco inspirada, a segunda ainda mais, sem nenhuma criatividade, a terceira é boa, porém não o suficiente para que o volume seja mais que regular. Nota (**).




Volume 8 – O Mágico de Oz

 O Mágico de Ot, 75 páginas, 1987;

Roteiro: Sauro Pennacchioli
Desenho: Alberico Motta
Arte-final: Agnese Fedeli

Patacôncio descobre que o terreno da caixa-forte do tio Patinhas é um terreno cedido pela prefeitura somente até “ele deixar esse mundo”. Prontamente ele consegue a cessão do terreno com o prefeito e procura cientistas para conseguir um planeta habitável para mandar o velho pato escocês, com o fracasso dessa primeira tentativa, Patacôncio procura a Maga Patalójika para enviá-lo para outra dimensão. A bruxa aceita e, disfarçada de Margarida, atrai tio Patinhas e seus sobrinhos para uma velha casa, de onde ela os transporta para o Mundo de Ot, onde tudo o que é necessário, roupas, comida e ouro, cresce em árvores. A verdadeira Margarida, entretanto, viu sua sósia e os patos entrando na casa e os segue disposta a salvá-los. Se “As aventuras de Marco Polo” é uma excelente história que faz tudo certo, essa aqui é horrível e faz tudo errado: Os desenhos são ruins, a colorização é ruim, o roteiro é péssimo, cheio de tolices como os Metralhas-moto, o tio Patinhas se bronzeando com a número um, e um monstro que – que originalidade! – só pode ser derrotado com cócegas e a ridícula solução final. Eu penei só de ler a história de novo para escrever isso. Apenas mais duas observações: primeira, porque o nome Mágico de Ot? A história faz referência ao Mágico de Oz, eu sei, mas não absolutamente nada a ver com o livro, e o único mágico na história é a Maga Patalójika. Segundo, ao descobrir que quando o Patinhas deixasse esse mundo ele poderia ficar com todas suas riquezas – e todos na história só puderam pensar na possibilidade de morte – ele imediatamente planeja mandá-lo para outro planeta, ou para outra dimensão, nem sequer passa pela cabeça de Patacôncio contratar um atirador, como se mandar alguém para o espaço fosse mais legal do que executar. Claro, isso é uma história infantil e jamais poderia ter uma tentativa de assassinato nela, mas ela cria essa situação e nada impede de ter um pouquinho de lógica, não é?


As Aventuras de Tom Sawyer, 57 páginas, 1990;


Aqui, Mickey é Tom Sawyer, Pateta é Huckleberry Finn e Minnie é Becky Tatcher. Mickey gosta de matar aula e de brincar com seu amigo Pateta, um dia quando brincam de fantasmas à noite, eles testemunham um roubo. Como o ladrão é o perigoso Injun Bafo eles ficam calados, porém quando um inocente é acusado, Mickey Sawyer denuncia o verdadeiro ladrão, que foge. Mesmo depois de voltarem a ver o bandido numa ilhota no Mississipi, eles continuam suas vidas até que um dia em um piquenique nas cavernas, Mickey e Minnie Tatcher se perdem e dão de cara com o Bafo. Se eu nunca tivesse lido o livro eu teria gostado muito da criatividade e da ação do roteiro dessa história, entretanto tendo lido não posso deixar de achar que os méritos são todos dele, uma vez que essa é, provavelmente, até agora, a adaptação mais literal dos Clássicos da Literatura Disney. No pouco que se muda, piora a história, amenizando a questão do crime, por exemplo, e da imensa e surreal tolice do acusado. No mais os desenhos são bons, e a história é como se fosse uma boa adaptação do livro para crianças menores. De qualquer forma, recomendo a todos que leiam o livro, que é um dos meus favoritos.


Avaliação da Patranha:
A pior história, de longe, da coleção e uma das piores que eu já li na vida, seguida de uma história que nem se fosse boa de verdade compensaria, porém apenas aproveita os méritos da obra de origem, garantem para o volume a nota (*).




Volume 9 – Guerra e Paz

Guerra e Paz, 65 páginas, 1986;


Nessa incrível história, tio Patinhas como príncipe Patonov, se vê na iminência da invasão dos franceses sobre a Rússia, e se preocupa em como proteger seu patrimônio, ao mesmo tempo em que traz de São Petersburgo seu sobrinho preguiçoso e esbanjador, Conde Patonov, vivido pelo Donald. Ao iniciar uma confusão bélica graças a um desproporcionalmente enorme canhão de seu tataravô, para proteger seu dinheiro dos Metralhas das estepes que escaparam da prisão na Sibéria, o príncipe Patinhas Patonov acaba por adiantar o confronto. Conde Patonov têm uma genial idéia de esconder o ouro forjando-o como balas de canhão, porém graças a sua preguiça essas preciosas balas são enviadas para o campo de batalha, e Donald se vê obrigado a ir recuperá-las tendo, ao mesmo tempo, os Metralhas em seu encalço. Em primeiro lugar há de se elogiar a magnífica e detalhada arte dessa história, é o tipo de história em que vale a pena parar um pouco e olhar os quadros com mais atenção. A história também tem um ótimo roteiro, em que a história flui fácil e naturalmente, mesmo com algumas tramas paralelas, além do excelente humor, muitas vezes nonsense (vive l’empereur et Zidane), quando o quadro descreve alguma coisa, mas o que está acontecendo é exatamente o contrário, por exemplo. A única coisa que talvez pudesse melhorar é que achei a seqüencia final, com os metralhas, meio rápida demais, mas isso não tira o brilho desse ótimo clássico. É mais uma excelente história entre as melhores da coleção.


O Segredo de Napoleão, 38 páginas, 1985;

Roteiro: Bruno Concina
Desenho: Massimo De Vita

Na segunda história da coleção da série “Máquina do Tempo” Mickey e Pateta são enviados pelo professor Zapotec e Marlin para 1805, para investigar o porquê da famosa pose de Napoleão, com a mão dentro da camisa. A história não tem uma grande trama, apenas Mickey e Pateta numa pousada investigando os hábitos de Napoleão. A única cena de ação ocorre já no final. Quer dizer, a história não é ruim, é divertida, mas não eram necessárias 38 páginas, já que há muitos quadrinhos desnecessários, o humor, praticamente só se garante pelos bons momentos de patetices do Pateta. Os desenhos são bons, Massimo de Vita é um dos meus desenhistas de estilo italiano favorito, embora aqui ele não apresente sua melhor forma. No final das contas é uma boa história, embora não seja a melhor do volume (nem de longe) e nem a da série temática.

 
Crime e Castigo, 46 páginas, 1993;

Roteiro: Guido Scala
Desenho: Guido Scala

Nessa história, Mickey é chamado para descobrir quem roubou um saco de moedas de ouro do sítio da vovó Donalda. Ao saber que o Bafo está na cidade imediatamente o rato desconfia dele, o tempo passa e novas evidências mostram que ele é mesmo o culpado, entretanto nenhuma prova existe contra ele, ao que Mickey insiste para que ele confesse. Bafo, atormentado pela culpa e pelo medo de ser descoberto, começa a ter terríveis pesadelos. Essa é uma história bastante original, eu sempre gosto de ver o Mickey como detetive, e nessa história ele usa uma abordagem diferente, mais psicológica, o Bafo atormentado pela culpa também é bastante interessante, já que não costuma acontecer com vilões de quadrinhos. Há várias coisas que eu não gostei na história, porém, como a descaracterização de personagens, a começar pelo tio Patinhas, que inexplicavelmente doa um saco de dinheiro para a vovó Donalda, apenas para ajudá-la e ajudar seus vizinhos, algo que contraria totalmente o personagem durão, ganancioso e egoísta. Com o Bafo não é diferente: ele que começa a história como o pilantra que todos conhecemos, mas termina como a mais cândida das criaturas. Nem é o caso de não ter um personagem melhor para usar, pois acho que o Donald cairia perfeitamente bem com essa situação, não roubando um saco de ouro da própria avó, mas cometendo um crime que viesse a prejudicar outras pessoas, já que o pato faz isso com uma grande freqüência, e é bom o bastante para se arrepender, além de que o corretinho Mickey funcionaria muito bem nessa dinâmica, investigando o amigo e pensando duas vezes antes de condená-lo. Se fosse uma história ambientada em outras circunstâncias, seria mais natural a descaracterização, já que estariam assumindo um papel, mas esses são os verdadeiros personagens numa situação que remete ao livro. Concluindo, acho que essa é uma boa história, que poderia ser muito melhor.

Avaliação da Patranha:
Mais um excelente volume, com uma história excepcional que o garante todo. Não que as outras duas façam feio: uma que é, no mínimo, original e uma comum, mas divertida. Nota (*****).

 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Clássicos da Literatura Disney - Parte 2


Continuamos com a segunda parte da avaliação de toda a coleção de Clássicos da Literatura Disney, hoje do Volume 4 ao 6.

 Legenda da Avaliação: (*)Ruim, (**)Regular, (***)Bom, (****) Ótimo, (*****)Excelente.




 Volume 4 – Os Cavaleiros da Távola Redonda


Roteiro: Sisto Nigro
Desenho: Giampiero Ubezio

A primeira história com o Mickey e o Pateta na coleção com a série temática “Máquina do Tempo”, para quem deseja conhecer melhor a série o Thiago do site Portallos escreveu esse ótimo post: http://www.portallos.com.br/2009/10/07/patopolis-em-quadrinhos-4-mickey-e-pateta-alterando-o-passado-em-1478-download/ com outra história da série onde Mickey e Pateta viajam no tempo, para a Itália Renascentista. Já nessa, eles vão para a Inglaterra do século V para descobrir a verdade sobre a Távola onde se reuniam os cavaleiros do rei Arthur, se ela é redonda de fato ou possui outro formato. A história é bastante diferente das histórias de abertura dos outros volumes, a começar pela data posterior e pelo tamanho, bem mais curto. Ela não se apóia em uma história para se inspirar, já que as lendas do Rei Arthur são várias, mas utiliza esse universo para desenvolver a trama da investigação da tal mesa. O desenho é bem feito, embora a colorização não esteja tão boa nessa edição. O roteiro em alguns pontos é meio infantil e bastante previsível, mas a história é divertida, o Mickey funciona bem nessas histórias de viagem o tempo, e o Pateta sempre dá o seu brilho.


Nos tempos do Rei Arthur, 10 páginas, 1966;

Roteiro: Vic Lockman
Desenho: Paul Murry

Minha história favorita do volume, tem o traço de um dos meus mestres Disney favoritos, uma das poucas unanimidades entre os fãs quando se trata do Mickey, Paul Murry. Essa história sim faz uma adaptação disneyana da lenda do rei Arthur, tendo o Mickey como o soberano inglês após acidentalmente retirar a espada da pedra, ele monta sua távola redonda com cavaleiros (aliás, o que o gastão está fazendo solitário como único representante dos patos nessa história?) quando, porém, Lady Minnie é raptada pelos cavaleiros tricolores (não, não é uma torcida organizada do Fluminense) todos os cavaleiros arranjam uma desculpa e sobra para o Pateta salvar a dama em perigo. Só pela sinopse já dá para perceber que é uma ótima e divertidíssima história, o nome de Murry nos créditos garante que a trama é muito bem desenhada também. Uma excelente história mais clássica e com o estilo diferente de todas até aqui, já que é de outra escola, a americana.


A Lenda do Rei Arthur, 33 páginas, 1988;


Voltamos ao núcleo dos patos nessa história que, como a anterior, reconta a história do rei Arthur, ou nesse caso, Donaltur, candidato ao trono da Inglaterra junto com seu rival Gastolot, que é apenas um tolo manipulado pela Maga. Nessa história, a lenda segue seu próprio rumo, com a espada encravada no alto de uma montanha que todos têm medo de escalar, uma transformação em sapo e um dragão que protege a princesa Margarivere. A história não é tão divertida, simples, criativa ou bonita graficamente quanto à anterior, porém não é uma má história, não, é voltada para o humor, coisa que faz muito bem, com bons momentos.


Tristão e Isolda, 68 páginas, 1996;


Sinceramente, até agora eu não sei direito o que pensar dessa história. Tio Patinhas é o rei Patinhas Magno, que se vê apaixonado (ocasião única) por Isolda (Margarida) e manda seu paladino Donald Tristão para raptá-la de seu pai e seus terríveis irmãos. Donald, inevitavelmente, se apaixona por ela, e adentram um bosque mágico, onde coisas estranhas acontecem. Essa história é meio nonsense, é estranha, sem dúvida, e imprevisível. Por um lado, em alguns momentos parece infantil, com a bruxa Vanda e um ente flamejante brincando com quem entra no bosque, e o estilingue de um dos irmãos e a história não é tão divertida, por outro, tem o roteiro bem construído com a linha de ação bem clara e uma imprevisibilidade rara em histórias infantis, nunca dá para saber o que vai acontecer na próxima página e até o final é surpreendente. A arte, não tão boa, e o colorido ajudam na impressão de ser infantil demais, mas os desenhos funcionam bem para a história cheia de criaturas estranhas, como na parte dos dolmens. No final das contas, essa é uma história única para mim, e que vale a pena ler.


Avaliação da Patranha:
Mais um volume bom. As histórias do Mickey no passado e do Donald como rei Arthur são divertidas, mas bastante comuns e nada têm de extraordinário. A história do Murry é ótima, mas é curta e despretensiosa, não combina tanto com uma coleção assim (ou pelo menos, com o início dela). E a história final, a maior do volume, Tristão e Isolda é muito boa pela originalidade, mas não tão divertida. Nota (***).



 Volume 5: A Ilíada e a Odisséia

Ilíada, 83 páginas, 1959;

Roteiro: Guido Martina
Desenho: Luciano Bottaro

Uma história espetacular que não é uma adaptação da Ilíada homérica, mas sim uma história que, com situações em que se envolve a família Pato, remete a guerra de Tróia. Nela, Gastão rouba um objeto valioso do tio Patinhas e junto com os irmãos metralha foge para uma fortaleza em uma ilha. Donald pensando que o que eles roubaram foi a Margarida, graças a um mal entendido, jura ao tio Patinhas (que não desmente a confusão) que fará de tudo para resgatar o tesouro roubado. Ajudados por um Pateta, munido de poderes proféticos, graças a uma fenda mágica, os patos chegam a Ilha, mas não podem entrar na fortaleza e aí se inicia a Guerra. A dinâmica dos personagens é ótima, Gastão e os Metralhas de um lado e Donald, tio Patinhas, Huguinho, Zezinho, Luizinho, Pateta e, depois, Pardal do outro funcionam perfeitamente bem nessa história. Pateta junto à família pato é raro, ainda mais sem o Mickey e ele garante bons momentos. O roteiro é muito bem escrito, com a ação na medida certa, embora eu ache que a história poderia ser menor, cortando, por exemplo, a inútil e sem sentido seqüencia em que o Capitão Gancho aparece, além de achar o final meio súbito e rápido, mas isso não tira o brilho da ótima história. Os desenhos também são espetaculares, ainda que de 1959, com o mestre Luciano Bottaro e a colorização está ótima nessa história também. Para mim, a melhor da coleção até esse ponto.


Odisséia, 63 páginas, 1961;


A ambientação dessa história e no velho oeste americano onde, semelhantemente a anterior, diversos fatos acontecem que fazem referência a Odisséia de Ulisses. Donald luta 10 anos na guerra contra os índios, por causa de um búfalo roubado do tio Patinhas. Antes de ir à guerra Donald registrou o sítio da vovó Donalda em seu nome, já que os combatentes não pagam impostos, ciente dessa artimanha Gastão invade o sítio com os credores do Donald (que possui toda sorte de dívidas), dispostos a consumir tudo. Ao vencer a guerra Donald passa por uma série de infortúnios até voltar para casa e expulsar os “pretendentes”. Com bons, porém claramente antigos desenhos e uma colorização tão boa quanto à história anterior, a arte faz sua parte nessa história. Quanto ao roteiro tenho algumas coisas do que reclamar, primeiro, o fato de Donald ter passado dez anos fora e os sobrinhos lembrarem-se dele, afinal quantos anos eles têm? Segundo, está certo que Donald é displicente e irresponsável, agindo muito mais vezes da forma errada do que da certa, mas nem para ele seria natural fazer tantas besteiras quanto nessa história. Mas, fora isso, é uma boa história. Pateta mais uma vez é aproveitado, de novo como adivinho, de forma muito engraçada. A ação é bem construída, às vezes rápido demais, e não tão bem quanto na história anterior, embora em minha opinião essa seja mais engraçada.

Avaliação da Patranha:
Um volume com apenas duas grandes e antigas histórias, ambas ambientadas diferentemente da obra de origem, uma ótima e uma boa. 100 % de aproveitamento na revista e nota (****).




 Volume 6: As Viagens de Marco Polo
As aventuras de Marco Polo, 126 páginas, 1982;


Até agora eu já falei de histórias simples e despretensiosas, histórias grandes e cheias de rodeios no roteiro, e histórias grandes e com roteiro bem construído, embora simples, quase sempre com uma observação: a história poderia ter menos páginas. Nenhum desses é o caso da história que vem a seguir: Ela é gigante, tem 104 páginas nessa edição (126, no original), pretende contar a grande saga de Marco Polo, e o roteiro é cheio de voltas e situações diferentes, mas não consigo pensar em nada que poderia ficar de fora. É, para resumir, uma história fantástica. Tio Patinhas compra um estúdio de televisão e chama o Mickey para escrever um seriado sobre Marco Polo, e ele narra a história, na qual Donald faz o papel de Marco, tio Patinhas de seu tio Mateus, Ludovico Von Pato de seu pai Nicolau. A história é dividida em quatro partes, os quatro episódios do seriado: No primeiro os Polos chegam a Veneza, e Marco passa a narrar suas aventuras para os familiares de desde quando, saindo se Veneza, dirigiram-se para o Oriente, para a China, atravessando terras inóspitas e todo tipo de provação, chegando até a encontrar Ararate, o monte onde pousou a Arca de Noé. No segundo, a partir da terra das turquesas eles avançam por um terrível deserto até chegar finalmente a Grande Muralha. No terceiro, já na presença de Kublai Kahn, eles aprendem sobre a ciência e as riquezas da China, e Marco derrota um consorte traidor. No quarto, Marco derrota uma horda de bárbaros, e depois eles finalmente voltam para casa após escoltarem a princesa Kokacin (vivida pela Pata Lee) até o seu noivo, o Xá da Pérsia. A história além de muito divertida, e com uma ótima trama é bastante educativa também, mostrando várias das invenções da China ancestral (embora nem tudo seja verdade claro) e transpondo muito bem a história de Marco Polo para os quadrinhos. A maneira do tio Patinhas de produzir um seriado milionário garante o bom humor. Os desenhos são lindos, e mostram o quanto Romano Scarpa pode fazer um trabalho melhor do que na sua história presente no volume 1. O colorido dessa edição também ficou espetacular. Eu só lamento pela história da Ilíada que mal durou uma edição como minha favorita da coleção.


O Tesouro de Marco Polo, 13 páginas, 1973;

Roteiro: Carl Fallberg
Desenho: Tony Strobl
Arte-final: Steve Steere

Depois da ótima história que a sucede essa história fica um pouco sem graça, apenas para fechar a edição. A história em si não é ruim, ela narra o tio Patinhas acompanhado dos sobrinhos atrás do tesouro de Marco Polo, com um mapa que um pastor lhe deu, porém quando eles estão para achar o tesouro o pastor aparece desejando o tesouro para si próprio. Achei o roteiro confuso e cheio de incongruências, afinal o tio Patinhas salvou o pastor e anos depois ele lhe deu o mapa? Porque ele deu o mapa? Para que o tio Patinhas abrisse a caverna? Estranho... Eu não entendi. Os desenhos levam o traço do Tony Strobl, de quem eu gosto, mas o colorido está horrível. A história não tão ruim assim também, é divertida e tem seus momentos, como quando o tio Patinhas sonha que eles estão velhos cavando o tesouro, e os sobrinhos estão exatamente igual, apenas com longas barbas. De qualquer forma é apenas uma simples história tapa-buraco.


Avaliação da Patranha:
O volume é ocupado quase que só por uma história espetacular, de resto apenas uma história bobinha para fechar o volume. E temos a primeira nota (*****).


sábado, 13 de novembro de 2010

Clássicos da Literatura Disney - Parte 1


Para inicio de Blog resolvi avaliar e discorrer sobre todos os volumes de Clássicos da Literatura Disney lançados até aqui. Esta é uma coleção especial semanal lançada para comemorar os 60 anos da revista Pato Donald, publicada pela editora Abril, a princípio deveriam ser lançados 20 volumes, entretanto com o sucesso de vendagem esse número foi ampliado para 30, e posteriormente para 40;

Para não demorar muito, pois a coleção já está no volume 25, e lançando, começarei com os três primeiros:

Legenda da Avaliação: (*)Ruim, (**)Regular, (***)Bom, (****) Ótimo, (*****)Excelente.




Volume 1: Os Três Mosqueteiros

Os Três Mosqueteiros; 63 páginas, 1957;

Roteiro: Guido Martina

Nunca antes publicada no Brasil, essa história é um clássico do pioneiro mestre italiano Guido Martina. Nela Donald assume o papel do gascão D’Artagnan e depois de se unir a seus sobrinhos Hugo Atos, Luís Aramis e José Portos e a seu tio, o Capitão Trintevilles, vivido pelo tio Patinhas é recrutado pela rainha da França para uma missão secreta. A história é muito boa, embora tenha algumas diferenças para as produzidas mais atualmente, já que ela é 1957, ainda nos primórdios dos quadrinhos Disney italianos. Nela nota-se, por exemplo, gags mais físicas que não são costumeiras hoje em dia, porém naquela época eram bastante comuns, é só comparar um desenho antigo, por exemplo, o (ótimo) Pica-pau doidão com sua versão moderna, o (lixo) novo Pica-pau. Quanto a arte, a história pode realmente parecer estranha, já que ainda não era tão caprichada. Entretanto, ainda que pareça meio displicente e com uma técnica menos refinada, ela faz bem o seu papel, principalmente nas já mencionadas gags físicas presentes na trama. O roteiro é diferente dos modernos como não deveria deixar de ser. Porém ao contrário do desenho, isso é bom. Nessa história, por exemplo, há elementos que devido à praga do politicamente correto não veríamos hoje. Como o Pato Donald bêbado, uma princesa que, bem... Não é muito feminina, digamos... Entre outros elementos. Além disso, as mais de 60 páginas permitem um bom desenvolvimento do roteiro, que é bem criativo e engraçado; É uma boa história, que devido ao fato de nunca antes ter sido publicada aqui e as suas grandes diferenças para com o modelo das que são atualmente publicadas casa perfeitamente com a coleção.


O Máscara de Ferro, 26 páginas, 1984;


Outra história inédita no Brasil, porém muito diferente da anterior, a começar pela ambientação. Essa não é uma paródia, mas passa em Patópolis com o Donald contando a história do Máscara de Ferro para os sobrinhos, com Gastão assumindo o papel do rei Luís/Felipe, Tio Patinhas como o ministro do Interior, Patacôncio como o inescrupuloso ministro das finanças e o próprio Donald como o heróico (ele puxa bastante a sardinha para o próprio lado) D’Artagnan. Essa história é dos anos 80, e percebe-se uma melhora considerável no traço. A história não é clássica, nem tão grande como a anterior, porém é divertida e despretensiosa. Não é uma pérola, mas fecha bem o número de páginas da edição.

O Capitão Fracasso, 60 páginas, 1967;

Roteiro: Guido Martina
Desenho: Romano Scarpa
Arte-final: Giorgio Cavazzano

Há quem goste de uma boa mistura de personagens Disney. Eu não gosto, só gosto dos personagens de Patópolis, detesto as histórias com personagens de filmes da Disney. Ou melhor, poderia até gostar com um bom roteiro, entretanto não é o caso dessa história, o roteiro é pouco inspirado e sem muita graça. Aqui Donald para ajudar uma dama em perigos, a saber, a Branca de Neve que, enfeitiçada por uma bruxa, ficou cega, atravessa uma série de provações e testes a sua bondade e bravura. Embora eu goste do Donald como herói, acho que ele assim tão valente foge um pouco do personagem, além de que fica bem menos divertido do que o atrapalhado e medroso de sempre. A arte é do mestre Romano Scarpa, porém é bem inferior a algumas das produções posteriores do desenhista. Mas realmente não gosto nem um pouco dessa história, principalmente porque ela me lembra uma das maiores abominações que eu já li em um almanaque Disney, isso: http://coa.inducks.org/story.php?c=I+TL+1777-A. Credo!


Avaliação da Patranha:
Esse volume possui uma história clássica e ótima, que faz uma boa adaptação disneyana da obra original, uma história mediana com viés de boa que encaixa bem, porém fecha com uma história verdadeiramente ruim. O saldo final é bom, pela história inicial. Nota (***).





Volume 2: A Ilha do Tesouro

A Ilha do Tesouro, 60 páginas, 1959;


Outra história bem antiga, essa tem o traço consideravelmente melhor que a “Os Três Mosqueteiros”, embora ainda bastante inferior tecnicamente que as produzidas mais tarde. Nessa história um fantasma pirata chamado Corsárius leva Donald e os sobrinhos para o passado, para viverem uma verdadeira aventura de piratas. Eles acordam na casa do pirata e acham seu mapa do tesouro, porém tio Patinhas, na pele do vilão da história, o chefe dos piratas, rouba o mapa, a partir daí eles correm para cima e para o baixo para recuperar o mapa, achar o tesouro e salvar os meninos. O roteiro dessa história não é tão bem construído e é ligeiramente confuso, as gags antigas (como o mostro sendo perfurado por bolas de canhão) estão presentes em menor número que na outra história cinqüentenária publicada até aqui na coleção, e o roteiro não justifica 60 páginas. Entretanto as boas piadas espalhadas por toda a trama fazem essa ser uma boa história, embora talvez fosse melhor se tivesse menos páginas e menos rodeios no roteiro.


Marujos Intrépidos, 30 páginas, 1996;

Roteiro: Guido Scala
Desenho: Guido Scala
 
Essa é uma história com uma lição de moral. Mostra o Donald como Harvey, um sobrinho preguiçoso do tio Cheney (vivido, é lógico, pelo tio Patinhas). Ele é mandado para um curso de “eficiência aplicada”, para aprender a trabalhar, mas no caminho uma tempestade lança-o no mar, junto dos sobrinhos, e ele acaba sendo recolhido por um escuna, e posto para trabalhar como grumete ao lado de Dan, vivido pelo Peninha. Lógico que no final Donald Harvey aprende o valor do trabalho. A história é um pouco sentimentalóide, bem menos engraçada, porém com um roteiro melhor construído que a anterior. A HQ deseja passar uma moral e é isso que ela faz em 30 páginas sendo uma boa e nada excepcional história.


O Fantasma de Canterville, 26 páginas, 1990;


Essa é minha história favorita do volume. Não é tão grande como e épica como a primeira deste ou do outro volume, porém em suas 26 páginas faz tudo certinho, contando a história do fantasma de Canterville (encarnado pelo Donald) que tem seu castelo invadido por uma família americana (Tio Patinhas, Brigite, Pata Lee, Huguinho, Zezinho e Luisinho) imune aos seus sustos. O roteiro é bem simples, ambientado apenas no Castelo, porém é bem humorado e bem construído. A arte também é muito boa, do meu período italiano preferido. Essa é uma história não é inesquecível, nem indispensável, entretanto.

Avaliação da Patranha:
Esse volume vai na contramão do primeiro: não traz nenhuma grande história e nenhuma história ruim também, mas três boas histórias, todas diferentes umas das outras. Nota (***)





Volume 3: O Grande Teatro de Shakespeare (****)

Donald Hamlet, 76 páginas, 1960;

Essa é, na minha opinião, a melhor história da coleção até esse ponto. Nela Donald se vê atormentado por uma terrível dúvida: Pagar ou não ao fisco, ser ou não ser um contribuinte? Ele acaba se machucando e para ele refrescar as idéias os sobrinhos dão para ele ler a história de outro jovem também corroído pelas dúvidas: Hamlet. Durante a leitura Donald acaba dormindo e sonhando que ele mesmo é o príncipe da Dinamarca, onde enfrenta várias tramas no poder. A história, assim como os carros chefes das outras edições, é bem antiga, de 1960. Entretanto ela é muito melhor que as duas, tendo uma arte muito superior a dos Três Mosqueteiros, e um roteiro muito melhor estruturado que a da Ilha do Tesouro. Sendo igualmente divertida e engraçada, ou ainda mais, que essas duas. Donald reescrevendo o famoso monólogo de Hamlet com o contexto dos impostos, ou o Donald Hamlet o tempo todo questionando de forma dramática o que comer no café da manhã ou outras coisas triviais é hilário. Soma-se a isso um bom uso do hall de personagens Disney nessa história (como um tio Patinhas tesoureiro real, que se desespera cada vez que tem que pagar as dívidas do reino, ou o Bafo na pele de um rei bárbaro glutão) e temos uma excelente história.


Donald Otelo, 39 páginas, 1972;


Donald demonstra muito ciúme de Margarida, ao que seus sobrinhos o comparam a Otelo, sem saber quem é Otelo, Donald procura o prof. Ludovico que lhe conta [parte d] a história do Mouro de Veneza. Não gostei dessa história, não. O roteiro dá muitas voltas e de maneira nenhuma justifica suas 39 páginas. Por exemplo, era realmente necessário contar como o Ludovico conseguiu a tal flor rara? As coisas não funcionam simplesmente e o roteiro não é bom, embora ainda tenha algumas coisas legais, como o Donald negão, como o Mouro de Veneza, e um, até aqui para mim, único Peninha vilão, na história contada pelo Ludovico. Os desenhos também são bem pobres e às vezes mal feitos. É uma história que não é ruim nem boa, e poderia ficar de fora apesar de ter elementos únicos, afinal certamente há dezenas de histórias da Disney por aí, de 32 páginas com tema de Romeu e Julieta, por exemplo.


A Megera Domada, 34 páginas, 1998;


Em primeiro lugar, porque o título “A Megera Domada”? Porque faz referência ao título da história em que se inspira, ou porque no final William Shakespeare (ou Guilherme Balança-Lança, hehe) resolve usar uma mulher no papel principal da sua peça? Acho que poderia ser o Megero Domado, já que essas histórias são apenas inspiradas nos clássicos da literatura e não adaptadas deles. De qualquer forma isso não importa, a história em si é boa. O traço do genial Cavazzano, não é nem necessário falar, é amplamente superior ao de qualquer história publicada até aqui. Embora eu mesmo não seja fã do estilo italiano, é inegável o talento desse grande mestre. O roteiro é competente e divertido, não tenta criar uma grande história, mas apenas divertir, e é isso o que ele faz. Uma boa história em suma.

Avaliação da Patranha:
Uma história excelente e inspirada, com um toque único de humor na adaptação, somada a uma história mediana cheia de erros e uma história boa, divertida e despretensiosa, além da capa mais bonita entre todos os volumes credenciam este a ser avaliado como ótimo. Nota (****).