Desde o principio da Patranha eu pretendia tratar desse tema, só não tive oportunidade (nem vontade) até agora. Acabou que esse post demorou menos para ficar pronto, e é até agora o menor que escrevi, acho que por não ser uma resenha nem lista, tratando-se de um único tema.
A questão é que o universo dos patos tem muito mais admiradores do que o do rato, sendo que alguns dos fãs sequer gostam do Mickey. Porque o Mickey é tão desprezado por alguns fãs de quadrinhos Disney? O primeiro pensamento que vem a mente é que, de fato, há menos boas histórias com o universo dele do que com o do Donald, por exemplo, mas isso também deve ser entendido com maior calma, afinal gosto é pessoal, e ambos problemas parecem ser complementares, a saber, se você não gosta de determinado personagem não gostará das suas histórias, e se não gosta de determinadas histórias não gostará de seu protagonista. É claro que esse post não propõe a ser uma resposta completa, mas apenas compilar alguns fatores. Vamos a eles:
A questão é que o universo dos patos tem muito mais admiradores do que o do rato, sendo que alguns dos fãs sequer gostam do Mickey. Porque o Mickey é tão desprezado por alguns fãs de quadrinhos Disney? O primeiro pensamento que vem a mente é que, de fato, há menos boas histórias com o universo dele do que com o do Donald, por exemplo, mas isso também deve ser entendido com maior calma, afinal gosto é pessoal, e ambos problemas parecem ser complementares, a saber, se você não gosta de determinado personagem não gostará das suas histórias, e se não gosta de determinadas histórias não gostará de seu protagonista. É claro que esse post não propõe a ser uma resposta completa, mas apenas compilar alguns fatores. Vamos a eles:
1 – Carl Barks trabalhou com patos;
Só por causa dele? Antes que me chamem de vintage, que eu não dou atenção aos atuais artistas, bem não é verdade. Eu prefiro sim Carl Barks a qualquer outro quadrinista, mas sei valorizar obras de qualidade produzidas mais atualmente. Entretanto é inegável a grande influencia que o mestre tem no universo dos patos até hoje. Don Rosa, Vicar, Van Horn, Daan Jippes e vários outros grandes mestres foram influenciados marcantemente por Barks. Se acaso o mestre dos patos tivesse trabalhado e desenvolvido o universo do rato, é bem provável que todos esses seguidores tivessem feito o mesmo, tendo então muito mais gente de talento a trabalhar com o Rato.
Não é, então, só por causa de Barks, mais fundamentalmente por causa dele, que influenciou vários outros mestres. Não consigo, no entanto, sequer lamentar isso, afinal o que ele fez com o universo do pato é sensacional. Isso influenciaria sem dúvidas no caráter e na construção do personagem que é o Mickey. Afinal, Carl Barks tinha um humor satírico quase cínico, mas falarei mais disso mais adiante;
2 – O Mickey NÃO é engraçado;
Praticamente continuando do tópico anterior, Donald desde o principio já era um pato preguiçoso, e depois adquiriu o pavio curto, a falta de escrúpulos em conseguir o que quer. Ou seja, o pato é um verdadeiro anti-herói. Na maioria das histórias age de maneira desonesta, só se importa consigo mesmo, é o único personagem que pode começar uma história com a cidade toda correndo atrás dele raivosa, isso é comum e nem precisa de explicação. Pateta, ao contrário de Donald, é honesto e puramente bom, mas é um tolo. Falta-lhe inteligência, e é por isso que normalmente ele se mete em várias situações inesperadas. Tio Patinhas, para finalizar os exemplos, é um avarento, mesquinho, várias piadas podem ser construídas em cima de sua falta de generosidade e sua ganância. Já o Mickey... Bem, o Mickey é honesto, inteligente, bom moço, generoso, de bom coração. Ou seja, chatíssimo, não tem graça nenhuma. O Superman da Disney.
Aí temos algumas possibilidades. Uma é utilizar o Mickey em histórias humorísticas mesmo assim. Isso até pode ser feito, utilizando ele como contrapeso de outros personagens. Como por exemplo, correndo atrás das besteiras que o Donald e o Pateta fazem. A história “Volta ao Mundo em 80 Dias” da qual falei semana passada é um ótimo exemplo onde ele contrasta com o Pateta, sendo um homem (rato, desculpe) sensato que se encontra em situações inimagináveis. Às vezes ele é colocado como personagem principal de histórias curtas e de teor humorístico, isso é um erro, obviamente. Já que, ou se vai descaracterizar o personagem ou ele vai ficar totalmente desambientado. Ou os dois, o que ocorre com freqüência. Isso nos leva a outra possibilidade, que tratarei no próximo tópico;
3 – O Mickey só funciona bem em histórias mais sérias;
Aí é que está. O Mickey é um personagem descartável ou inútil? Pelo contrário, o Mickey é um excelente personagem. É sério, um dos mais inteligentes dos quadrinhos Disney (na prática, quer dizer, no dia-a-dia, não como os cientistas Pardal e Ludovico, por exemplo). Vemos a beleza do Universo Disney aí. É muito grande e variado, permite vários tipos de história. O Mickey não funciona bem em histórias curtas, mas não tem ninguém melhor nesse universo para colocar no meio de um grande mistério. Eu sou um grande fã de histórias de detetive, tenho todos os livros de Sherlock Holmes, e vários da Agatha Christie, e por tabela adoro histórias do Mickey de detetive quando bem feitas. Outro exemplo de história em que ele dá certo são histórias épicas. As histórias contidas na coleção Clássicos da Literatura Disney são ótimos exemplos, “O Inferno de Mickey” é uma das melhores histórias que eu já li. Histórias da série máquina do tempo, embora cheias de falhas e algumas legitimamente ruins, e da ótima série “Era uma vez na América” são bons exemplos também. Claro que isso leva ao ultimo fator;
4 – É mais difícil fazer uma boa história do Mickey;
Claro, porque embora não seja nada fácil fazer uma história curta, que seja genuinamente engraçada e interessante, não é fácil e deve contar com muito talento do roteirista, não dá pra negar que uma história grande que se proponha a ser mais séria, contar um mistério, ou descrever acontecimentos épicos, é muito mais difícil de fazer de maneira aprazível. É necessário inspiração, pesquisa e boas ideias. Na verdade, poucos são os autores, que conseguiram trabalhar por um longo tempo, de maneira agradável a todos os leitores, com o universo do rato. Uma menção honrosa a dupla Fallberg/Murry, que produziu por anos e anos excelentes histórias de mistério e aventura com o Mickey. Acho que são hoje a única unanimidade entre os fãs de quadrinhos Disney com o rato, já que até mesmo os maiores desdenhadores do Mickey apreciam suas obras.
É certo que também existem péssimas histórias curtas do Donald e do Zé Carioca, mas esses personagens têm carisma para segurar um roteiro não tão inspirado, já o Mickey todo seu carisma encontra-se em seu talento para detetive, ou de solucionador de problemas de modo geral, e se um mistério ou problema tem uma solução fácil de mais, inverossímil, que ofende a inteligência do leitor, ele se torna inútil e irritante, com o seu pedantismo, falando descobertas que até uma criança de seis anos teria observado. Deve ser por isso que só o Pateta anda com ele. O Mickey só se torna interessante quando o roteiro possibilita problemas onde o rato seja realmente necessário, onde a inteligência dele se destaque (sem agir como clarividente por outro lado). Normalmente essas são ótimas histórias. Ele também pode ser usado em histórias que são tão épicas que os personagens perdem importância, como “O Inferno de Mickey”.
Para terminar, só lamento que esse incrível personagem seja tão mal utilizado na maior parte do tempo. Que poucos autores atuais e de outrora tenham conseguido aproveitá-lo bem, utilizando suas qualidades em histórias interessantes, ao invés disso deixando sua falta de carisma estragar histórias curtas ou fazendo grandes, porém pouco inspiradas histórias longas, gerando até mesmo o desdém de alguns leitores. E espero que surjam novos artistas que tratem bem e saibam fazer boas histórias com o universo do rato. Casty, a principio, foi uma decepção completa, mas a última história dele que li era boa e ainda espero mais dele (como eu assinei tenho que ter esperança nisso).
Que venham bons tempos para o rato!