Mais um dia, mais um capítulo de avaliação de Clássicos da Literatura Disney, nesta quinta feira uma história abismal e uma colossal são os destaques, do volume 7 ao 9.
Legenda da Avaliação: (*)Ruim, (**)Regular, (***)Bom, (****) Ótimo, (*****)Excelente.
Volume 7 – Guilherme Tell
A Lenda de Guilherme Tell, 32 páginas, 1988;
Roteiro: Guido Scala
Desenho: Guido Scala
Desenho: Guido Scala
Aqui, o Pato Donald é Donald Tell, ele vive na Suíça em uma época de opressão, todo mês os cobradores irmãos Metralha levam quase tudo o que ele tem, não permitindo sequer que compre areia para exercer o ofício de relojoeiro. Donald Tell busca ajuda no seu rico tio Patinhas, que o incentiva a começar uma revolução, já que ele também sofre com os impostos extorsivos, e para isso dá ao sobrinho uma besta (a arma, não o animal). No entanto, ao contrário do Guilherme Tell clássico, este é uma negação com a arma e precisa treinar muito. Preocupado que está com a revolução que deverá liderar e com sua mira desastrosa, o pato se esquece da obrigação de se curvar diante do chapéu do chefe dos cobradores de impostos posto sobre um poste na praça, e por isso deve submeter-se a conhecida prova de acertar uma maçã (na verdade, três) na cabeça dos sobrinhos. O maior mérito dessa história é que ela tem só 32 páginas, é curta para essa coleção, é simples e não se complica com seu roteiro não tão bem construído. As melhores piadas são em relação à criação de coisas identificadas com a cultura da Suíça, como o queijo suíço e o canto à tirolesa. O roteiro é infantilizado quando, por exemplo, a flecha ricocheta em diversos objetos antes de acertar alguém. É comum em histórias infantis, mas plenamente dispensável quando se deseja fazer uma história melhor.
Mickey Tell, 14 páginas, 1990;
Trama: Neville Jason
Roteiro: Tom Anderson
Desenho: Tello-Team
Roteiro: Tom Anderson
Desenho: Tello-Team
Outra história bastante simples, onde Mickey e Pateta vão aos Alpes suíços, e ao sentir o ar rarefeito Mickey desmaia e acorda no passado na época de Guilherme Tell, vivendo com ele o mais famoso de seus feitos; Os desenhos, assim como a colorização, são superiores às da história anterior, já o roteiro é bem menos criativo e engraçado, (Aliás, o Mickey está bem menos inteligente nessa história, demorando várias páginas para perceber que estava no passado) já que o Mickey apenas vive as histórias já conhecidas do herói suíço, sem nada de diferente ou imaginativo. Uma história de 14 páginas apenas para fechar a edição.
Os Noivos, 75 páginas, 1976;
Roteiro: Edoardo Segantini, Giulio Chierchini
Desenho: Giulio Chierchini
Desenho: Giulio Chierchini
Novamente, assim como no volume 4, a maior história ficou para o final do volume. História essa baseada em um livro que, sendo muito mais popular na Itália ou mesmo na Espanha, ocupa na coleção desses países a primeira posição no volume referente, sendo este, na Itália, o número 1, uma vez que lá ele tem a mesma importância que, aqui, tem as principais obras de Machado de Assis (segundo o próprio texto explicativo da edição). Nessa história Donald é Renzo Donaldino, jovem trovador enamorado de sua noiva Margarida, mas que devido a um ardil de Dom Patinhas, poderoso soberano da região, é obrigado a se casar com Brigite de Monza para que esse próprio se livre do casamento. Querendo evitar o matrimônio e acossado pelos servidores de Dom Patinhas, os Metralhas, Donald consulta o cientista Pardal, que lhe dá um elixir da greve para que os Metralhas abandonem o trabalho, lógico que Donald, atrapalhado como sempre, derruba o elixir, que voa em direção a Milão. Sem alternativa, o pato foge para as terras do rival de Dom Patinhas, Patacôncio. Essa é minha história favorita do volume, não chega a rivalizar com as melhores da coleção, mas num volume bastante fraco, ela se destaca com suas boas piadas e com sua história bem escrita. Não há uma trama excepcional aqui, mas uma boa história apenas, com um ótimo e hilário final.
Avaliação da Patranha:
A primeira história é pouco inspirada, a segunda ainda mais, sem nenhuma criatividade, a terceira é boa, porém não o suficiente para que o volume seja mais que regular. Nota (**).
Volume 8 – O Mágico de Oz
O Mágico de Ot, 75 páginas, 1987;
Roteiro: Sauro Pennacchioli
Desenho: Alberico Motta
Arte-final: Agnese Fedeli
Desenho: Alberico Motta
Arte-final: Agnese Fedeli
Patacôncio descobre que o terreno da caixa-forte do tio Patinhas é um terreno cedido pela prefeitura somente até “ele deixar esse mundo”. Prontamente ele consegue a cessão do terreno com o prefeito e procura cientistas para conseguir um planeta habitável para mandar o velho pato escocês, com o fracasso dessa primeira tentativa, Patacôncio procura a Maga Patalójika para enviá-lo para outra dimensão. A bruxa aceita e, disfarçada de Margarida, atrai tio Patinhas e seus sobrinhos para uma velha casa, de onde ela os transporta para o Mundo de Ot, onde tudo o que é necessário, roupas, comida e ouro, cresce em árvores. A verdadeira Margarida, entretanto, viu sua sósia e os patos entrando na casa e os segue disposta a salvá-los. Se “As aventuras de Marco Polo” é uma excelente história que faz tudo certo, essa aqui é horrível e faz tudo errado: Os desenhos são ruins, a colorização é ruim, o roteiro é péssimo, cheio de tolices como os Metralhas-moto, o tio Patinhas se bronzeando com a número um, e um monstro que – que originalidade! – só pode ser derrotado com cócegas e a ridícula solução final. Eu penei só de ler a história de novo para escrever isso. Apenas mais duas observações: primeira, porque o nome Mágico de Ot? A história faz referência ao Mágico de Oz, eu sei, mas não absolutamente nada a ver com o livro, e o único mágico na história é a Maga Patalójika. Segundo, ao descobrir que quando o Patinhas deixasse esse mundo ele poderia ficar com todas suas riquezas – e todos na história só puderam pensar na possibilidade de morte – ele imediatamente planeja mandá-lo para outro planeta, ou para outra dimensão, nem sequer passa pela cabeça de Patacôncio contratar um atirador, como se mandar alguém para o espaço fosse mais legal do que executar. Claro, isso é uma história infantil e jamais poderia ter uma tentativa de assassinato nela, mas ela cria essa situação e nada impede de ter um pouquinho de lógica, não é?
As Aventuras de Tom Sawyer, 57 páginas, 1990;
Roteiro: Fabio Michelini
Desenho: Maria Luisa Uggetti
Desenho: Maria Luisa Uggetti
Aqui, Mickey é Tom Sawyer, Pateta é Huckleberry Finn e Minnie é Becky Tatcher. Mickey gosta de matar aula e de brincar com seu amigo Pateta, um dia quando brincam de fantasmas à noite, eles testemunham um roubo. Como o ladrão é o perigoso Injun Bafo eles ficam calados, porém quando um inocente é acusado, Mickey Sawyer denuncia o verdadeiro ladrão, que foge. Mesmo depois de voltarem a ver o bandido numa ilhota no Mississipi, eles continuam suas vidas até que um dia em um piquenique nas cavernas, Mickey e Minnie Tatcher se perdem e dão de cara com o Bafo. Se eu nunca tivesse lido o livro eu teria gostado muito da criatividade e da ação do roteiro dessa história, entretanto tendo lido não posso deixar de achar que os méritos são todos dele, uma vez que essa é, provavelmente, até agora, a adaptação mais literal dos Clássicos da Literatura Disney. No pouco que se muda, piora a história, amenizando a questão do crime, por exemplo, e da imensa e surreal tolice do acusado. No mais os desenhos são bons, e a história é como se fosse uma boa adaptação do livro para crianças menores. De qualquer forma, recomendo a todos que leiam o livro, que é um dos meus favoritos.
Avaliação da Patranha:
A pior história, de longe, da coleção e uma das piores que eu já li na vida, seguida de uma história que nem se fosse boa de verdade compensaria, porém apenas aproveita os méritos da obra de origem, garantem para o volume a nota (*).
Volume 9 – Guerra e Paz
Guerra e Paz, 65 páginas, 1986;
Roteiro: Giovan Battista Carpi
Desenho: Giovan Battista Carpi
Desenho: Giovan Battista Carpi
Nessa incrível história, tio Patinhas como príncipe Patonov, se vê na iminência da invasão dos franceses sobre a Rússia, e se preocupa em como proteger seu patrimônio, ao mesmo tempo em que traz de São Petersburgo seu sobrinho preguiçoso e esbanjador, Conde Patonov, vivido pelo Donald. Ao iniciar uma confusão bélica graças a um desproporcionalmente enorme canhão de seu tataravô, para proteger seu dinheiro dos Metralhas das estepes que escaparam da prisão na Sibéria, o príncipe Patinhas Patonov acaba por adiantar o confronto. Conde Patonov têm uma genial idéia de esconder o ouro forjando-o como balas de canhão, porém graças a sua preguiça essas preciosas balas são enviadas para o campo de batalha, e Donald se vê obrigado a ir recuperá-las tendo, ao mesmo tempo, os Metralhas em seu encalço. Em primeiro lugar há de se elogiar a magnífica e detalhada arte dessa história, é o tipo de história em que vale a pena parar um pouco e olhar os quadros com mais atenção. A história também tem um ótimo roteiro, em que a história flui fácil e naturalmente, mesmo com algumas tramas paralelas, além do excelente humor, muitas vezes nonsense (vive l’empereur et Zidane), quando o quadro descreve alguma coisa, mas o que está acontecendo é exatamente o contrário, por exemplo. A única coisa que talvez pudesse melhorar é que achei a seqüencia final, com os metralhas, meio rápida demais, mas isso não tira o brilho desse ótimo clássico. É mais uma excelente história entre as melhores da coleção.
O Segredo de Napoleão, 38 páginas, 1985;
Na segunda história da coleção da série “Máquina do Tempo” Mickey e Pateta são enviados pelo professor Zapotec e Marlin para 1805, para investigar o porquê da famosa pose de Napoleão, com a mão dentro da camisa. A história não tem uma grande trama, apenas Mickey e Pateta numa pousada investigando os hábitos de Napoleão. A única cena de ação ocorre já no final. Quer dizer, a história não é ruim, é divertida, mas não eram necessárias 38 páginas, já que há muitos quadrinhos desnecessários, o humor, praticamente só se garante pelos bons momentos de patetices do Pateta. Os desenhos são bons, Massimo de Vita é um dos meus desenhistas de estilo italiano favorito, embora aqui ele não apresente sua melhor forma. No final das contas é uma boa história, embora não seja a melhor do volume (nem de longe) e nem a da série temática.
Crime e Castigo, 46 páginas, 1993;
Roteiro: Guido Scala
Desenho: Guido Scala
Desenho: Guido Scala
Nessa história, Mickey é chamado para descobrir quem roubou um saco de moedas de ouro do sítio da vovó Donalda. Ao saber que o Bafo está na cidade imediatamente o rato desconfia dele, o tempo passa e novas evidências mostram que ele é mesmo o culpado, entretanto nenhuma prova existe contra ele, ao que Mickey insiste para que ele confesse. Bafo, atormentado pela culpa e pelo medo de ser descoberto, começa a ter terríveis pesadelos. Essa é uma história bastante original, eu sempre gosto de ver o Mickey como detetive, e nessa história ele usa uma abordagem diferente, mais psicológica, o Bafo atormentado pela culpa também é bastante interessante, já que não costuma acontecer com vilões de quadrinhos. Há várias coisas que eu não gostei na história, porém, como a descaracterização de personagens, a começar pelo tio Patinhas, que inexplicavelmente doa um saco de dinheiro para a vovó Donalda, apenas para ajudá-la e ajudar seus vizinhos, algo que contraria totalmente o personagem durão, ganancioso e egoísta. Com o Bafo não é diferente: ele que começa a história como o pilantra que todos conhecemos, mas termina como a mais cândida das criaturas. Nem é o caso de não ter um personagem melhor para usar, pois acho que o Donald cairia perfeitamente bem com essa situação, não roubando um saco de ouro da própria avó, mas cometendo um crime que viesse a prejudicar outras pessoas, já que o pato faz isso com uma grande freqüência, e é bom o bastante para se arrepender, além de que o corretinho Mickey funcionaria muito bem nessa dinâmica, investigando o amigo e pensando duas vezes antes de condená-lo. Se fosse uma história ambientada em outras circunstâncias, seria mais natural a descaracterização, já que estariam assumindo um papel, mas esses são os verdadeiros personagens numa situação que remete ao livro. Concluindo, acho que essa é uma boa história, que poderia ser muito melhor.
Avaliação da Patranha:
Mais um excelente volume, com uma história excepcional que o garante todo. Não que as outras duas façam feio: uma que é, no mínimo, original e uma comum, mas divertida. Nota (*****).
Oi Denis, parabéns pelo blog, estou adorando. Abs. Paulo
ResponderExcluirSeu blog tem ótimos textos,parece até jornal
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